“Nunca a natureza me perguntou de onde eu vinha, se era naturalizado, qual a minha religião… A Natureza do Brasil me salvou.”
Frans Krajcberg (1921 Kozienice, Polônia – 2017 Rio de Janeiro) de família judia, sobreviveu aos horrores da Segunda Guerra Mundial. Presenciou sua mãe, dirigente do partido comunista local, ser enforcada pelo exército nazista logo que tomada a cidade. Perdeu irmãos, pai, e toda a família nos campos de concentração. Foi prisioneiro dos alemães, mas conseguiu escapar, tendo então lutado pelo exército russo onde trabalhava como construtor de pontes. Também paraquedista, sobreviveu a duas bombas que explodiram perto de si. Ganhou medalhas por bravura; uma delas lhe foi entregue pelo próprio Stálin.
Quando voltava a pé para sua cidade, logo no final da guerra, avistou um pequeno “monte”, onde antes havia somente planície. Ao aproximar-se viu que era uma grande pilha de corpos congelados. O mesmo horror que sentiu pelas atrocidades cometidas na guerra, sentiu pela contínua e sistemática destruição das florestas e seus povos originários. Em suas expedições por florestas queimadas pelo Brasil chegou a encontrar tribos inteiras de indígenas carbonizados intencionalmente, por incêndios criminosos; um muito triste paralelo.
Oscilando entre o sucesso da carreira artística (foi premiado na Bienal de São Paulo, em Veneza, já expunha na prévia do Georges Pompidou, …) e o desejo de isolar-se na natureza (chegou a viver numa caverna na região de Itabirito-MG), veio a encontrar sua final vocação. Dedicou sua vida, suas obras, ao Grito da floresta contra a destruição da natureza. Esse grito foi o seu até o final, esse o nome de diversas de suas exposições, ao lado de outras chamadas A Revolta.
“Todos têm o direito de gostar ou não de minha arte, de achar que faço arte ou não. Sou revoltado contra o que está acontecendo. Contra a luta do homem conta o homem, do homem contra a natureza, do homem contra a vida. O meu trabalho é a única maneira de me expressar. Se começo a gritar na rua, me botam num hospital de doidos.”
Não se dizia artista, mas ambientalista. De uma sensibilidade artística notável, extraordinária, não buscava senão alertar a humanidade da barbaridade intrínseca da destruição da natureza (como um Holocausto).
“Meu trabalho às vezes chega ao estético, mas sem querer. Não é todo dia que eu consigo fazer um trabalho que eu grite alto, como eu gostaria. Às vezes ele cai um pouquinho no estético, sem que eu tenha intenção.”
“Cresci neste mundo chamado natureza, mas foi no Brasil que ela me provocou um grande impacto. Eu a compreendi e tomei consciência de que sou parte dela (…). Desde então, o que faço é denunciar a violência contra a vida. Esta casca de árvore queimada sou eu.”
Frans Krajcberg é um dos artistas mais importantes do Brasil, cujo trabalho transcende as fronteiras da arte e se torna um poderoso manifesto ecológico. Sua dedicação à preservação do meio ambiente e a forma como ele transforma materiais naturais em peças artísticas de grande impacto refletem não apenas sua habilidade como artista, mas também seu compromisso inabalável com a natureza. Krajcberg nos deixa um legado inestimável, lembrando-nos constantemente da necessidade de proteger e valorizar nosso planeta.
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